GERENCIAMENTO DE CUSTOS EM PEQUENAS EMPRESAS PRESTADORAS DE SERVIÇO UTILIZANDO O ACTIVITY BASED COSTING (ABC)1

NARA MEDIANEIRA STEFANO, Mestre*

Doutoranda, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Brasil. stefano.nara@gmail.com

* Endereço para contato: Rua Professor Aníbal Nunes Pires, 436, - Bairro José Mendes, Florianópolis - SC, 88045-030, Brasil.

Fecha de recepción: 02-07-2010 Fecha de corrección: 15-04-2011 Fecha de aceptación: 03-10-2011


RESUMO

Esse estudo teve como objetivo principal propor uma sistemática de gerenciamento de custos fundamentada em custos Activity-Based Costing (ABC) para as pequenas empresas prestadoras de serviços para melhor gerenciar seus custos. Definida uma sistemática, aplicou-se, parcialmente, em uma organização que tem como foco prestar assistência e consultoria em informática, para a atividade "entrega do produto (implantação de sistema)." Para melhor elaborar os direcionadores de custos (cost drivers) e calcular o custo do serviço, houve a necessidade de esse conhecer e presenciar os processos, atividades e os recursos envolvidos. Portanto, a proposta baseada no método ABC é aplicável em pequenas empresas prestadoras de serviços pelo fato de originar uma investigação de custos mais precisa e, com isso, proporcionar informações para a tomada de decisões.

PALAVRAS-CHAVE

Serviços, pequenas empresas, custeio ABC.

Classifição JEL: M41

ABSTRACT

Cost management in small service providers using activity-based costing (ABC)

The purpose of this study is to present a proposal for managing costs and improving cost management based on activity-based costing (ABC) for small service providers. A systematic approach was partially applied to an organization that primarily engages in providing information technology assistance and consulting services in connection with the activity of "delivering a product (system deployment)." To prepare better cost drivers and calculate the cost of service, there was a need to determine this and observe the processes, activities, and resources involved. The conclusions show that the proposal based on the ABC method is applicable to small service providers because it leads to a more accurate investigation of costs and, therefore, provides information for making decisions.

KEYWORDS

Services, small companies, ABC costing.

RESUMEN

Manejo de costos en pequeñas empresas prestadoras de servicios mediante el método de costeo por actividad (ABC, por sus iniciales en inglés)

El presente estudio tiene como objetivo presentar una propuesta para manejar y mejorar la gestión de costos con base en el costeo por actividad (ABC) en pequeñas empresas prestadoras de servicios. Se aplicó parcialmente un enfoque sistemático a una organización que presta servicios de asistencia y asesoría en informática para la actividad de "entrega de producto" (implementación de sistemas). Con el fin de mejorar los direccionadores de costos y calcular el costo del servicio, era necesario conocer dicho costo y observar los procesos, las actividades y los recursos involucrados. Las conclusiones demuestran que la propuesta basada en el método ABC se puede aplicar a pequeñas empresas prestadoras de servicios, pues conduce a una investigación más exacta de los costos y, por consiguiente, suministra información para tomar decisiones.

PALABRAS CLAVE

Servicios, pequeñas empresas, costeo ABC.


INTRODUÇÃO

Em um mercado cada vez mais competitivo, a concorrência passa a ter escala mundial, beneficiando a oferta de bens e serviços de alta qualidade e de baixos custos. E as informações a respeito dos custos passassem a ser a cada vez mais relevantes para apoiar e fundamentar o processo de tomada de decisões. A estratégia de baixo custo (Muñoz e Muñoz, 2005) supõe que o preço é o principal meio de competir entre empresas, e que este depende, em última instância, da administração eficiente dos custos.

A necessidade de registrar as informações sobre as transações comerciais tem existido sempre que as pessoas se utilizam do sistema de trocas. Historiadores confirmam informes contábeis organizados há milhares de anos, encontrando registros, que remontam às antigas civilizações, gravados em blocos de pedra.

O processo de se obter os custos no período da Revolução Industrial (Cuevas, Chávez, Castillo, Caicedo e Solarte, 2004; Nakagawa, 2002) era todo fundamentado nos custos diretos. Girava em torno de mão-de-obra e matéria-prima, os custos indiretos não eram levados em consideração. Esta forma de se custear satisfazia as necessidades gerenciais por tratar-se de um só produto na linha de produção. O progresso tecnológico e a abertura do mercado fizeram com que novos elementos fossem incorporados aos custos, afetando a sua apuração e tornando-a mais complexa. Na atualidade os sistemas de custos tradicionais não são tão eficazes para os gerentes tomarem suas decisões, pois proporcionam informações estáticas, as quais servem para análises financeiras do que a decisões estratégicas da organização.

As empresas enfrentam constante pressão para reduzir custos (Demeere, Stouthuysen e Roodhooft, 2009; Kaszubski e Ebben, 2004; RodríguezMaeso, 2010; Tsai e Lai, 2007) e manter altos níveis de rendimento. A utilização dos métodos de custos (Baird, Harrison e Reeve, 2004; Duchac, 2008; Scramin, Batalha e Farias de Jesus, 2002; Stefano, 2009) orienta as decisões aos gestores, e é de fundamental importância para a sua sobrevivência das organizações. Várias são metodologias de apuração de custos, sendo mais adotadas aquelas que consideram o custeio por: absorção, variável e o por atividades. O custeio por atividades também é conhecido como Custeio Baseado em Atividades - Activity Based Costing (ABC). Essa metodologia visa demonstrar que as operações de uma organização podem ser divididas e subdivididas em atividades, tais como recepção, requisição de materiais, faturamento e cobrança.

O método ABC tem sido utilizado como base para a tomada de decisões estratégicas e proporciona o benefício de melhorar o rendimento da organização por mais tempo (Bjornenak e Mitchell, 1999; Cagwin e Bouwman, 2002). Ademais, as informações oferecidas pelo método ABC, também, é amplamente utilizada para avaliar a melhora contínua e para supervisionar o rendimento dos processos. Em anos recentes, a literatura tem analisado o sucesso da adoção do método ABC e os fatores determinantes desse sucesso (Baird et al., 2004; Brown, Booth e Giacobbe, 2004; McGowan e Klammer, 1997; Shields, 1995). Uma linha importante de investigação nesta área centra-se no impacto dos fatores de aplicação no sucesso da aplicação do ABC, isto é, as características dos procedimentos envolvidos na implementação do método.

O ABC reconhece que os custos indiretos e de apoio sejam direcionados primeiro à atividade e aos processos e depois a produtos, serviços e clientes. O método é tanto aplicável em organização de serviços assim como na indústria, de grande ou pequeno porte. Neste contexto, o objetivo deste trabalho é fazer uma proposta sistemática de gerenciamento dos custos em uma empresa prestadora de serviços de pequeno, sob a ótica do método ABC.

Justifica-se este estudo pelos seguintes motivos: grande parte das empresas de serviços não utiliza sistemas formais para o cálculo dos seus custos, acarretando em inexatidão dos mesmos e o custeio ABC é hoje reconhecidamente o sistema mais acurado para cálculo dos custos.

1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

1.1. activity-based costing (ABC)

O método ABC originou foi disseminado em trabalhos desenvolvidos pela General Electric, no começo da década de 1960, nos Estados Unidos da América (Hughes, 2005; Kellermanns e Islam, 2004). O ABC já era conhecido (Nakagawa, 2002) e usado por contadores em 1800 e início de 1900. Um dos fatores responsáveis (Martins, 2008) pelo interesse no ABC, é em função do avanço tecnológico e a crescente complexidade dos sistemas de produção O método ABC tem como característica fundamental procurar reduzir as distorções (Leone, 2000) provocadas pelo rateio arbitrado dos custos indiretos conferidos nos sistemas tradicionais. Não há consenso em relação ao surgimento do método. Há duas escolas de pensamento: uma diz que a abordagem é nova e outra garante que o ABC é semelhante aos já existentes.

Vários trabalhos foram publicados acerca da aplicação do método ABC, como: Shields (1995); Gunasekaran, Marri e Yusuf (1999); Innes, Mitchell e Sinclair (2000); Corrêa (2002); Sánchez (2002); Caetano (2003); Cotton, Jackman e Brown (2003); Cuevas et al. (2004); Kallunki e Silvola (2008); Duh, Lin, Wang e Huang (2009), Cesarotti e Spada (2009), entre outros. O método ABC é composto de várias variáveis que devem ser claramente definidas para a aplicação do método. Na seqüência serão apresentados os conceitos a respeito desse método.

1.2. atividades, direcionador de custos (cost drivers) e recursos

Uma atividade é o resultado (Martins, 2008) da combinação de recursos humanos, materiais, tecnológicos e financeiros utilizados na produção de bens e serviços. O entendimento das atividades é de fundamental importância para o avanço do estudo do ABC. O direcionador de custo é a forma pela qual os custos são conferidos às atividades. Primeiramente, é necessário avaliar como as atividades consomem os recursos (cost drivers dos recursos e da primeira fase), tentando estabelecer uma relação entre ambos e, em seguida, como os produtos e ou serviços consomem as atividades. Os direcionadores de custos são à base do ABC, e procuram rastrear a origem do custo e estabelecer uma relação de causa/efeito.

Recursos ou insumos são gastos necessários, decorrentes de suas operações normais da organização (transformação de insumos em produtos), como no caso da depreciação, água, salários e energia elétrica. A quantidade de cada direcionador que está associada à atividade que se quer custear é denominada fator de consumo de recursos.

1.3. Lógica de funcionamento do ABC

O ABC deve ser utilizado por organizações que desejam entender seus processos e suas atividades, que buscam rever a cadeia de valores, com o objetivo de modificá-la, alterando e excluindo atividades que não agregam valor.

O ABC analisa a organização sob a ótica do processo, desconsiderando a hierarquia das funções bem como a divisão de tarefas. Isso acontece, segundo Ching (2001), porque os produtos e serviços são produzidos, comercializados e entregues aos clientes a partir de processos e não por funções estáticas e departamentalizadas.

O ABC, como ferramenta para identificação dos custos de produtos/serviços, processos e atividades, proporciona valores mais reais que as metodologias de custeio utilizadas pela contabilidade tradicional, também atua diminuindo os efeitos de arbitrariedade presente no rateio dos custos overhead (custos indiretos).

Hicks (1992) apresenta os seguintes passos para a implementação do método ABC: identificar e definir as atividades relevantes, organizar as atividades por centro de custos, identificar os principais elementos de custo, determinar a relação entre atividades e custos, identificar os direcionadores de custos para atribuir estes às atividades e estas aos produtos, estabelecer o modelo de fluxo de custos, selecionar as ferramentas adequadas a execução e planejamento deste em tempo real permitindo simular diversas situações úteis para a tomada de decisões, coletar dados necessários para direcionar o modelo, por meio da avaliação de entrevistas, estimativas de especialistas, estabelecer o modelo e o fluxo e progresso das bases de custeio, uso de planilhas ou softwares de uso compreendido.

O processo de identificação das atividades e dos direcionadores deve ser feito cuidadosamente, para que o sistema seja eficiente. O entendimento das atividades é que dará condições para determinar os critérios de como serão alocados os custos. A finalidade do custeio ABC é apropriar, os custos às atividades executadas pela organização, de forma adequada aos produtos e ou serviços, conforme a necessidade que cada um faz das atividades.

1.4. custos em pequenas empresas de serviço

As microempresas e pequenas empresas (PME’s), cada vez mais ganham importância (Vargas, 2002), em sua contribuição para a economia do mundo. Normalmente, nas PME’s, a ênfase está na produção e não na gestão, pois quando quem teve a ideia de produzir algo é quem também a implementa. Essa personalização do trabalho (Simon e Albrecht, 2004), em que uma pessoa ou um pequeno grupo de pessoas são os criadores, gestores e implementadores, parece ser uma característica do nascimento da grande maioria das PME’s, juntamente com a existência de um nicho do mercado em que os seus propulsores estimam não estar sendo atendido ou atendido de maneira insatisfatória.

No caso das pequenas empresas Resnik (1990) relata que grande parte destas tem tolerância muito pequena com relação a despesas inúteis ou improdutivas. Pode-se afirmar que o controle severo dos custos constitui um ponto crucial. Geralmente, o empresário da pequena organização não possui familiaridade, e também interesse, utilizam contadores para realizar a contabilidade. E assim, o empresário não acompanha o desenvolvimento do sistema. Motta (2000) salienta que isto representa um ponto negativo, sendo que se trata também de um instrumento administrativo e, no entanto deveria ser responsabilidade de ambos, principalmente do contador que não faz parte da esfera onde se processa a atividade industrial ou comercial.

De modo geral, os controles de custos em empresas de serviços têm alguns pontos em comum com aqueles praticados nas indústrias. Estas questões (Lins e Silva, 2005) são de ordem de produção, margem de contribuição e ponto de equilíbrio passível de aplicação em muitas empresas de serviços. Mesmo sabendo-se que os serviços (Gil, 2009) não são estocáveis (Atkinson, Banker, Kaplan e Young, 2008), os sistemas de contabilidade proporcionam uma série de relatórios financeiros com exigências de avaliar o estoque. Em muitos casos, há exigências de relatórios financeiros com estruturas próprias. Na verdade, esses relatórios não servem para o gerenciamento da organização, que necessita manter outro sistema contábil em paralelo.

Em serviços, a principal forma de apuração de custos é a ordem de serviço. Ou seja, a ordem de produção tem sua aplicação mais voltada para fabricação de itens de determinadas especificações, na maioria dos casos exclusiva, como por exemplo, um vestido feito por encomenda. A ordem de serviço mantém as mesmas características da ordem de produção, no sentido da exclusividade parcial ou total da execução.

A maior parte dos custos das empresas de serviços (Lins e Silva, 2005) é dificilmente associada ao produto final ou algum cliente. Com uma análise detalhada (Grönroos, 2003, 2004) dos processos de serviço, pode-se entender o que é necessário e o que está travando o processo. O bom gerenciamento dos custos também está associado à produtividade nos serviços. O uso do ABC em serviços (Kaplan e Cooper, 2003) pode fornecer subsídios para o aperfeiçoamento da gestão da organização, por meio da análise de suas atividades. Também, a organização, poderá desenvolver oportunidades para rever suas operações e estratégias.

O conhecimento exato dos custos, seu perfeito controle e coerente medição são necessidades das organizações, seja de produto ou serviços, para que seus gerentes possam tomar decisões estratégicas e, logo, fazer melhor uso dos recursos organizacionais.

2. METODOLOGÍA

Analisamos diferentes fatores (Cooper, 1991; Estrin, Kantor e Albers, 1994; Sáez, 1995) dentre os apontados por diferentes autores que podem recomendar a priori a aplicação do ABC. O estudo caracteriza-se como um estudo de caso. O estudo de caso pode envolver o exame de registros existentes, a observação da ocorrência do fato, entrevistas estruturadas e não estruturadas. Quanto às técnicas de pesquisa, foram examinados os dados relevantes a identificação da organização, ramo de atividade, capital, número de funcionários e descrição de seus produtos e serviços, análise de balancetes e relatórios gerenciais, além de periódicos científicos, livros, teses e outros para a fundamentação teórica.

Os objetivos das entrevistas foram: identificar problemas gerais e específicos os quais podem estar comprometendo o bom desempenho das atividades da empresa, conhecer o funcionamento, suas dificuldades, problemas e como eles podem influenciar no gerenciamento dos custos, acompanhou-se a execução de cada atividade, com o objetivo de ver o produto final, neste caso a entrega do serviço. Na interpretação dos dados buscou-se analisar e interpretar com o intuito de atingir o objetivo deste estudo: desenvolver uma proposta de gerenciamento de custos fundamentado no método ABC para as empresas de pequeno porte prestadoras de serviços. Apresenta-se uma proposta e sua aplicação (ver Gráfico 1), com a intenção de fornecer melhor suporte do gerenciamento de custos das pequenas empresas prestadoras de serviços.

  1. Inicio. Nesta etapa define-se junto à diretoria a finalidade do projeto. Sendo primordial o comprometimento e envolvimento da diretoria com o projeto a ser desenvolvido. Aqui são definidos os objetivos da organização para com o uso do ABC, bem como os recursos necessários para a implantação da proposta. O consentimento da diretoria é importante par levar o projeto adiante e facilitar o acesso as informações, a realização das entrevistas e revisão da documentação.
  2. Reconhecimento das atividades desenvolvidas na realização das tarefas. Este passo consiste em mapear as principais atividades desenvolvidas na organização. O mapeamento das atividades é um dos principais passos para a determinação dos custos das atividades de uma organização por possibilitar a descrição, de forma sistêmica, da estrutura e das principais etapas do consumo de recursos.
  3. Identificação dos processos e tarefas. Esta etapa é primordial conhecer a organização do trabalho para desta forma, conseguir mais acuidade no levantamento dos dados. E esse conhecimento da organização do trabalho envolve o entendimento de todos os processos desenvolvidos na organização, além dos procedimentos de trabalho, instalações, maquinários utilizados.
  4. Separar custos (direto e indireto). Consiste em classificar os recursos consumidos em diretos e indiretos, em relação aos objetos de custos.
  5. Identificação e levantamento dos recursos consumidos pelas tarefas. A verificação destes recursos pode ser conseguida por meio de anotações feitas no levantamento das atividades ou de entrevistas com as pessoas que estão diretamente envolvidas na sua execução. Procurando caracterizar todo tipo de recurso consumido, como o número de funcionários, área utilizada, entre outros.
  6. Identificação e determinação dos direcionadores de atividades. Os dados sobre os direcionadores foram alcançados por meio de entrevistas com o (s) responsável (is) pelo (s) setor (es), quantidade de funcionários, informações de consumo (de água, energia elétrica, telefone, etc.) Deve-se tomar o cuidado ao se optar pelos direcionadores mais adequados, tendo em vista que estes conduzirão às atividades de todos os recursos consumidos na organização, em seguida, refletirão nos objetos de custos.
  7. Cálculo do custo da atividade. Nesta etapa, se tem condições de identificar quanto cada atividade custa para a organização. Pois, todos os recursos consumidos já foram rastreados por meio de direcionadores de custos. A importância do detalhamento desta fase é salientada por meio de planilhas individualizadas, separando-se os recursos consumidos.
  8. Medição de custo do serviço. Para medir o custo do serviço, tomam-se como base os dados coletados nas etapas anteriores. A sincronia na realização de todas as etapas possibilita então associar de forma adequada o cálculo do custo do serviço. O cálculo envolve a alocação dos objetos de custos aos custos diretos e indiretos. A seguir é apresentado o estudo de caso em uma organização prestadora de serviços.

2.1. aplicação - Estudo de caso

2.1.1. Ambiente da pesquisa

A organização em estudo atua no mercado desde 2005, especificamente, no mercado gaúcho, na prestação de consultorias em informática. No ramo de serviços com revenda de softwares e implantação de sistemas gerenciais e gestão de relacionamento com clientes. Também para alinhar as necessidades tecnológicas aos negócios da organização, padronização de métodos, sistemas e equipamento, consultoria na aquisição de equipamentos e análise de necessidade de software e hardware e suporte técnico ao usuário final. Atualmente, conta com oito funcionários, duzentos e cinquenta e seis clientes cadastrados e desses, duzentos e quarenta e sete ativos.

2.1.2. Inicio

Primeiramente, definiu-se junto à diretoria a finalidade da proposta de trabalho, isto é, identificar, mensurar e alocar os custos na atividade implantação de sistemas. A utilização do ABC na organização visa preencher a carência de informações gerenciais de custos. E esta é realizada com base nos relatórios contábeis, onde, muitas vezes, não reproduzem a realidade da organização, induzindo tomadas de decisões ineficientes. Deve-se assinalar que o apoio da direção é um fator crucial no sucesso da implantação do ABC tal fato tem sido mencionado por Shields (1995), McGowan e Klammer (1997), Foster e Swenson (1997), Friedman e Lyne (1999), Innes et al. (2000), Sánchez (2002).

2.1.3. Reconhecimento das atividades desenvolvidas na realização das tarefas

O reconhecimento das atividades foi obtido junto aos funcionários, os quais explicaram as tarefas por eles executadas, e, num segundo momento, fez-se o agrupamento dessas tarefas em atividades, conforme o Tabela 1.

O resultado obtido por meio das entrevistas e observações serviu de base para a realização do dicionário de atividades. No Tabela 2, mostra-se detalhadamente o dicionário das atividades.

2.1.4. Identificação e mapeamento da atividade "implantar sistemas (fazer a entrega)"

A Gráfico 2 apresenta as etapas e detalhadas e a duração na atividade "implantar sistemas (fazer a entrega)." O processo da atividade inicia-se quando o cliente vai até a empresa ou entra em contato via telefone (Atividade 1). Sendo, a atividade 15 (pós-venda), a atividade final.

2.1.5. Separar custos

Os custos diretos compreendem despesas: com o pessoal, aluguel, combustíveis e lubrificantes, material de copa, material de limpeza e higiene, reproduções de documentos, postais, água, energia elétrica, jornais, e revistas, material de expediente, serviços prestados por terceiros, telefone e internet, com viagem, honorários contábeis, depreciação, outras amortizações, comissões e despesas bancárias, multas diversas, outras despesas administrativas e tributos federais. Quanto aos indiretos: licença de uso, contratos de atualização, comissões e consultorias. É importante salientar que o item "despesa com o pessoal" tem como composição: salários e ordenados, provisões e encargos sobre férias e 13° salário, encargos sobre salários e ordenados, assistência medica/odontológica/social e alimentação.

2.1.6. Identificação e levantamento dos recursos consumidos pelas tarefas

Na definição dos direcionadores de recursos foram analisados, juntamente com os funcionários, cada um dos recursos e as atividades que foram consumidos. Os relatórios contábeis não apresentavam os valores separados em centro de custos, o que dificultou no estudo a alocação desses gastos às atividades. O item "despesa com o pessoal" consome 50,70% dos das despesas totais da empresa, e 65,45% dos custos são considerados indiretos. Definidas as atividades, os objetos de custos e a separação dos custos em indireto e direto, passa-se identificar quais são os possíveis direcionadores de custos a serem utilizados na aplicação da proposta, segundo o Tabela 3.

Os direcionadores de recursos determinados serviram de base para rastrear os recursos às atividades e os direcionadores de atividades para rastrear os custos das atividades aos objetos de custos.

2.1.7. Identificação e determinação dos direcionadores de atividades

Na definição dos direcionadores de atividades foram analisados, juntamente com os funcionários da organização, os fatores que determinam ou influenciam a forma como os objetos de custos consomem as atividades. Utilizou-se como base para a identificação destes direcionadores a descrição das atividades apresentadas no Tabela 2 (Dicionário de atividades). Foi analisado suas causas, possibilitando desta forma identificar os possíveis direcionadores de atividade. Esta etapa é demonstrada no Tabela 4.

2.1.8. Cálculo dos custos das atividades

Para tanto, foi realizada a análise de cada espécie de recurso e das atividades executadas; foi possível identificar quanto cada atividade custava para a organização. A Tabela 5 (em horas) evidencia o percentual de tempo gasto em cada atividade por funcionário (1, 3, 4, 5, 6, 7 e 8).

A Tabela 6 resume a alocação dos custos às atividades, percebe-se que a atividade "fazer entrega" (implantar sistemas) consome 13,64% dos recursos.

A Tabela 7 mostra a alocação dos recursos somente na atividade "fazer entrega (implantar sistemas)".

Dentre as "micro atividades" destacam-se a "instalação", "configurar o sistema" e "atender cliente (pós-venda)" consomem 75,07% dos recursos da atividade "fazer entrega". Sendo a "atender cliente (pós-venda)" com maior percentagem (39%). Esse fato adverte que essas atividades merecem uma análise mais cuidadosa, para se constatar se existe consistência entre a alocação de atividade e seus custos.

2.1.9. Medição de custo do serviço

Identificou os custos das atividades aos objetos de custos, isto é, com a implantação do Sistema 1, 2, 3, 4 ou 5, Tabela 8. Observa-se que a implantação do Sistema 2 consome aproximadamente 26% (vinte e seis percentual) dos recursos gastos na empresa.

Foi calculado o custo do serviço (CS), conforme consta na Tabela 9.

Os seguintes aspectos podem ser destacados no estudo: com a utilização da proposta é possível relacionar e classificar os gastos consumidos em custos indiretos e diretos. E, alocando os custos indiretos ao custo do serviço (CS) prestado por meio das atividades custeadas no valor de R$32.338,46. A identificação dos custos diretos se dá de forma objetiva, porque não apropria diretamente ao custo do serviço (CS).

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta fundamentada no método ABC apresentada neste estudo tem por finalidade proporcionar informações úteis ao gerenciamento dos custos nas pequenas empresas de serviço. As constantes mudanças ocorridas no mercado atual fazem com que as empresas de um modo geral, busquem a melhoria contínua em seus processos. O método ABC dispõe de uma estrutura para diminuir as necessidades dos gestores das organizações, permitindo a tomada de decisões e, desta forma, aumentar a produtividade, reduzir desperdícios e identificar as atividades que não agregam valor.

Qualquer processo de produção, informação ou serviço, de uma organização, é formado de várias etapas, no entanto só algumas delas agregam valor ao produto ou serviço. Algumas etapas não agregam valor, mas são necessárias. Apesar disso, dependendo da forma como se procede nessas etapas, se perdem muitos recursos, tanto de tempo, quanto de materiais.

Para uma organização ser lucrativa (Faccin, 2009; Schiffauerova e Thomson, 2006) competitiva, reconhecida como referência de qualidade e se converter num recurso altamente valioso para a comunidade, ela necessita: eliminar as etapas desnecessárias que não agregam valor ao produto ou serviço, modificar a forma de proceder nas etapas necessárias, procurando continuamente reduzir custos, sejam de tempo ou de materiais, buscando minimizar os custos envolvidos e melhorar a qualidade dos serviços prestados ou aos produtos oferecidos.

Por outro lado, quando se fala em redução de custos, a grande maioria dos gestores foca-se nas etapas que agregam valor, porque elas são mais visíveis. No entanto, acaba reduzindo custos que comprometem a qualidade do produto ou serviço, como comprar matérias primas e componentes mais baratos, contratar mão-de-obra mais barata e menos qualificada, etc.

A utilização da proposta auxiliará a organização, positivamente. No sentido de como enxergar os processos e atividades, resultando em informações relevantes para a organização, possibilitando: visualizar os processos e atividades, medir o custo das atividades executadas, facilitar o exame da participação do custo das atividades no custeamento dos serviços, calcular com maior exatidão o custo dos objetos de custos (isto é, dos Sistemas 1, 2, 3, 4 e 5), oferecendo condições favoráveis à tomada de decisões.

Entretanto, algumas dificuldades foram encontradas na aplicação da proposta destaca-se a carência de controles. Pois, o sistema tradicional em uso não oferece tais informações e muito menos meios de controle para a identificação dos direcionadores. A carência de controles fez com que alguns recursos fossem alocados às atividades por meio de estimativas de consumo conforme as informações fornecidas nas entrevistas. Este direcionador não é preciso, contudo em função da situação gerencial da maioria das pequenas empresas foi o mais adequado no momento.

A partir do desenvolvimento deste estudo surgiram várias linhas possíveis de pesquisa que primeiramente não satisfaziam a finalidade proposta no mesmo, porém, que por serem de importância para o aprofundamento do conhecimento do tema seriam adequados como objeto de investigação futura. Destacam-se as seguintes sugestões:

Portanto, a sistemática de gerenciamento de custos proposta para as pequenas empresas prestadoras de serviços pode contribuir de forma positiva para estas no entendimento dos seus custos. Isso facilitará a maneira de tratar, calcular, considerar os recursos consumidos e separar as atividades que dão valor ao serviço prestado.

NOTA DE RODAPÉ NA PÁGINA

1. Este artigo é o produto da dissertação de mestrado (Sistemática de gerenciamento de custos fundamentada no método ABC para pequenas organizações de serviços) defendida em 2009, na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM/RS/Brasil) com o apoio de bolsa de estudos concedido pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Nível Superior) – Brasil.


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